Ele disse, ontem 24 de abril:
“Temos que pagar o custo. Há ações que não foram punidas e os responsáveis não foram presos? Há bens que foram saqueados e não foram devolvidos?” “Vamos ver como podemos reparar isso.” (Ele tem que ter autorização legislativa)
No passado, ele já havia pedido desculpas pela “escravidão transatlântica ocorrida por cerca de 300 anos, entre 1550 (quando as primeiras caravelas trouxeram africanos escravizados ao Brasil) e 1850”
Você sabe porque ele disse isto, justamente quando Portugal comemora hoje (dia 25) os 50 anos do fim, dos 41 anos da ditadura militar de Salazar, terminada depois de sua morte em 1970, quando no poder estava um tipo de “Maduro de Chaves”. O político Marcelo Caetano que assumiu em 1968 e que representava simbolicamente Salazar. Marcelo Caetano, que cai com a chamada “Revolução dos Cravos”.
Se você não sabe, eu também não sei – porque este outro Marcelo, o atual presidente Marcelo Nuno Duarte Rebelo de Sousa, -declarou ontem (24) que Portugal tem que pagar, indenizar os custos que criaram ao Brasil e as outras ex colônias da África.
Vou defender aqui, três hipóteses:
PRIMEIRA POSSIBILIDADE:
Dentro de 20 meses (janeiro de 2026) terá eleições para presidente em Portugal, Marcelo está impedido de concorrer a um terceiro mandato, mas terá que ajudar o seu partido a eleger o seu sucessor. Também para ter uma proteção para o que fez durante o seu governo. Não podemos esquecer que no ano passado o primeiro ministro de Portugal, Antônio Costa, entregou sua demissão ao presidente Marcelo por conta de um inquérito, que está em curso, sobre um suposto caso de corrupção. Pode haver neste caso questões que “manchem a o nome do presidente e o seu partido” na sua sucessão.
Pesquisa feita recentemente em Portugal sobre os políticos de hoje usarem algumas ideias do ditador Salazar, acusou que 23% dos eleitores concordam, – índice muito parecido com o grupo chamado de bolsogados, no Brasil – que apesar do mesmo estar inelegível e com prisão a ser decretada em breve, por no mínimo 22 anos tem guarida.
Os 22 anos de prisão que menciono – que por coincidência é o número do PL (n.22) partido do Bolsonaro – é fruto da média das penas das prisões previstas pelos crimes que Bolsonaro responde e que os 100% dariam a ele 44 anos de cadeia.
Então: criar polêmicas é uma forma hoje, muito usada para fazer as redes sociais ficarem entretidas e discutindo, ainda mais um caso com essa magnitude que envolve, não só o Brasil, mas também as ex-colônias na África: Angola, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Moçambique e Cabo Verde.
SEGUNDA POSSIBILIDADE:
Pode estar querendo resgatar o nome da família e o seu próprio nome por conta que seu pai Baltazar, que foi por longo tempo ocupante de importantes cargos dentro da ditadura de Salazar. Esta participação dele na ditadura, derrubada com a “Revolução dos Cravos”, colocou ele no exílio, aqui no Brasil depois da queda do outro Marcelo ( Caetano ) o sucessor do ditador Salazar.
Vejam que hoje, com Marcelo Rebelo de Sousa presidente, tem a maior comemoração do fim de uma ditadura que nos 41 anos de Salazar, deixou Portugal como o país mais atrasado da Europa, e que seu próprio pai foi cúmplice do ditador.
O pai do presidente Marcelo que era o médico Baltazar Leite Rebelo de Sousa, nascido em1921 e RIP em 2002, também era professor e político do Estado Novo, foi figura de relevo da ditadura Salazar. Baltazar foi deputado, governador de Moçambique, ministro do Ultramar, Ministro da saúde e Ministro das Corporações e Previdência Social.
Depois da revolução dos Cravos em 25 de abril 1974, tal como outros ministros da ditadura do Estado Novo, refugiaram-se em outros países e o que Baltazar escolheu foi morar no Brasil. Aqui ele foi administrador de empresas no estado de São Paulo, deu aula em diversas universidades e pertenceu a várias associações culturais Luso-Brasileiras, tendo sido feito Grã-Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul,
TERCEIRA POSSIBILIDADE: que parece ser a principal hipótese
Amortizar um movimento que o Brasil já começou com o governo Lula – em dar grande espaço aos povos originários no comando de alguns ministérios – e que logo estará, se é que já não está irradiando um tempo de ódio “contra a pátria mãe”, por outras ex-colônias na África: Angola, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Moçambique e Cabo Verde.
Países que são pobres e uma proposta, mesmo que de mentira, de uma “vultuosa” indenização “segura a barra da imagem de Portugal”. A atitude do presidente Marcelo dará alguma esperança – com a promessa de uma esmola – para aqueles países e servirá de boa imagem ao mundo que hoje é mais solidário aos países que não exploram, mas ajudam os mais pobres.
Uma proposta de indenização que é uma mentira, – porque o presidente de Portugal não tem este poder – é presidente de um regime que é o parlamentarismo. Essa proposta de indenizar – que no fundo é prometer uma ajuda para os países africanos vencerem alguma dificuldade – serve como uma “meia doze de vacina”, contra a extrema direta em crescimento, que mesmo no Brasil, que hoje é a 9ª PIB do mundo, já havia “derrubado todos os índices de qualidade de vida”, durante os quatro anos da extrema direta de convívio do Bolsonaro no poder.
O Brasil no período do império, além de ter sido saqueado por Portugal, com o roubo de ouro e pedras preciosas teve os povos originários transformados em escravos. Vejam que Portugal mudou a capital do Brasil de Salvador para o Rio de Janeiro, depois de um século e meio, que aqui chegaram, para ficar mais próximo de Minas Gerais, São Paulo e Paraná onde eram extraídas a maior parte destas riquezas.
Não existiam estradas, nem caminhões eram carroças que levavam as riquezas para serem embarcadas em navios no porto de Santos.
Depois por muitos anos, submetidos aos maus tratos, castigos e milhares de mortes, os índios parecem terem se afastado da bíblia e dos jesuítas, que roubavam sua cultura e sua alma. Com esse afastamento e falta de “mão de obra de graça”, foi aberto o caminho aos mercadores de escravos portugueses – incentivados pelos reis de Portugal – que venderam no Brasil, com a ajuda da igreja que davam até recibos de compra e venda, mais de 3 milhões escravos africanos.
Tem sido assim o capitalismo aqui no Brasil, que no começo escravizaram os índios, depois os milhões de africanos que vieram nos navios até chegarem de forma sofrida em uma Lei Áurea QUE PUNIU OS VELHOS E DOENTES JOGADOS EM COVAS DA MISÉRIA. Depois veio a vez do sofrimento dos os operários até que começaram a ter direitos da carteira de trabalho e leis trabalhistas e sindicatos. E por último em 2015, as últimas escravas foram as empregadas domésticas que a então presidenta da República Dilma Rousseff (PT) assinou a Emenda Constitucional que ampliava os seus direitos trabalhistas.
No ato de comemoração do dia de hoje (25) no parlamento português, Portugal recebeu os representantes de todas as ex colônias que junto com a base política do governo de Marcelo e brindaram a democracia. Todos os presentes com uma rosa na mão cantaram a música “Grândola, Vila Morena”, um poema e canção composta José Afonso, que se tornou símbolo da “Revolução dos Cravos’, a extrema direta se retirou do ambiente.
A música do nosso Geraldo Vandré, “Caminhando”, também conhecida como “Para não dizer que não falei das flores”, (que ficou em 2º Lugar no Festival da Canção de 1968, três anos antes de 1971), que foi quando José Afonso gravou em Portugal a “Grândola, Vila Morena”(que foi cantada até 1974 como símbolo da revolução portuguesa. Grandola de grandolar exemplo: os estudantes grandolaram o ministro; eles foram à passeata e também grandolaram),
com certeza deu a inspiração ao José Afonso, mesmo que com apenas uma das suas estrofes do “Caminhando” de Vandré, essa:
“Ainda fazem da flor
Seu mais forte refrão
E acreditam nas flores
Vencendo o canhão”(Criada por Vandré em 1968)
Não duvido tenha sido a inspiração para o nome da “Revolução dos Cravos” …
- embora em Portugal os militares revoltosos, DIFERENTE DO BRASIL, lá eles derrubam ditadores aqui derrubam monarquia (1889) e democracia (1964) –
…em marcha cantavam música “Grândola, Vila Morena” iniciando a Revolução de 25 de abril de 1974
Neste dia 25 de abril, há 50 anos atrás uma moça (rapariga: em português de Portugal) entregou um buquê de cravos à um soldado e os cravos foram colocados nas bocas dos fuzis. Não por acaso fazia sucesso em Portugal a música de Geraldo Vandré composta em 1968, “Para não dizer que não falei das flores” que é a nossa Marselhesa.
Lá em Portugal a “Grândola, Vila Morena” tornou-se um símbolo da luta popular e um patrimônio nacional, aqui a música de Vandré “Caminhando “ou como “Para não dizer que não falei das flores”, foi tão forte que naquele mesmo ano, em dezembro de 1968, foi decretado o Ato Institucional nº. 5, pelo presidente Costa e Silva.
Com o AI5 decretado. Vandré, contra a própria vontade, teve de fugir do Brasil pelo Uruguai e só voltou em 1973, completamente abalado pelo afastamento do país que tanto ama.
Esta música de Vandré ficou em segundo lugar no 3º Festival Internacional da Canção (1968), perdendo para a “Sabia” de Chico Buarque e Jobim, o público que passava de 20.000 pessoas, no Maracanã, começou vaiar e gritar forte contra o júri e os policiais e militares da ditadura infiltrados no recinto. O povo queria a “Caminhada” de Vandré como vencedora.
Vandré entendeu que tinha que falar com o povo e cantar. Ele pegou o violão foi até o palco sentou em um banquinho, ajeitou o microfone, as vaias não paravam. Ele fez um belo discurso defendendo a arte de Chico e Jobim, as vaias pararam e ele começou cantar, o povo vai a loucura.
Clique AQUI e escute e veja o que acabo de relatar.
Por Guilhobel A. Camargo – Gazeta de Novo
Uma resposta
Uma caminhada perfeita na Revolução dos Cravos!!!!!! Misturar a nossa história com a de Portugal, citando as músicas revolucionárias foi excelente!!!! Mais um artigo para servir de pesquisa para nossos jovens estudantes de história!!!! Parabéns!!!