Como os erros do passado e as ameaças atuais de Trump estão derrubando a potência mundial dos EUA.

Esta minha opinião aborda a crise de hegemonia dos Estados Unidos, destacando como erros estratégicos passados e atuais, especialmente durante o governo de Donald Trump, uma “Trumpestade” que está contribuindo para a decadência da potência mundial.
Analiso o impacto das políticas protecionistas, a perda de liderança em setores estratégicos como semicondutores, e o crescimento de nações como a China e Taiwan, que investem em inovação e tecnologias avançadas.
Critico a postura de isolamento e tarifas elevadas, que prejudicam tanto os EUA quanto seus parceiros comerciais, como o Brasil, e faço alerta para os riscos de interferência estrangeira na soberania nacional brasileira. Conclui que, para preservar sua posição no cenário global, os EUA precisam repensar suas estratégias, priorizando cooperação, inovação e respeito à autonomia dos outros países, sob pena de uma crise irreversível na ordem mundial.
“Só os paranoicos sobrevivem”, dizia Andrew Grove.Mas o que acontece quando a paranoia se transforma em arrogância e as estratégias de defesa se tornam ataques destrutivos?
Nos últimos anos, os Estados Unidos, outrora a maior potência econômica e tecnológica do mundo, vêm enfrentando uma decadência que ameaça sua hegemonia global. Essa crise não é fruto do acaso, mas de uma série de erros estratégicos no passado e decisões presentes que colocaram o país em uma trajetória de autodestruição econômica e isolamento internacional.
O governo de Donald Trump, marcado por ameaças de tarifas comerciais, leis punitivas e rupturas de acordos multilaterais, foi a última tentativa desesperada de salvar a antiga supremacia dos EUA. Entretanto, essas ações, em vez de proteger a economia americana, aprofundaram a crise, gerando uma guerra comercial sem precedentes na história moderna. Países como China, Taiwan e outros atores globais reagiram com reciprocidade, acelerando uma guerra de tarifas que ameaça derrubar o próprio sistema de comércio internacional, já fragilizado por décadas de negligência e erros estratégicos.
Essa postura agressiva revela uma profunda crise de visão e de adaptação. Enquanto a China investe em inovação, tecnologia de ponta e no desenvolvimento de um modelo de crescimento liderado pelo Estado — como exemplificado pelo sucesso da TSMC, a gigante taiwanesa que domina o mercado de semicondutores — os EUA perdem terreno em setores estratégicos. A derrocada da INTEL, criada por Andrew Grove, símbolo do Vale do Silício, ilustra esse declínio. A empresa, outrora líder mundial, hoje enfrenta uma desvalorização histórica, perdas bilionárias e uma crise de inovação que reflete o fim de um modelo de negócios que dominou por mais de 50 anos.
A decadência dos EUA é também evidenciada pela perda de sua vantagem competitiva na indústria de semicondutores, um dos setores mais estratégicos do século XXI. A TSMC, com sua tecnologia avançada de fabricação de chips, representa o escudo de silício de Taiwan, um símbolo da nova ordem mundial onde a inovação e o controle da cadeia produtiva de tecnologia são essenciais para a manutenção do poder. Os EUA, aliados de Taiwan, tentam manter sua hegemonia por meio de alianças e investimentos, mas a dependência de um modelo que prioriza tarifas e isolamento ameaça seu futuro.
Além disso, o fracasso em compreender a importância social e econômica do comércio global, aliado à redução de programas de assistência aos trabalhadores prejudicados pela globalização, aprofundou o sentimento de insegurança nos EUA. Essa combinação de erros históricos e atuais cria um cenário onde o país, que um dia foi o mais forte do mundo, se vê à beira de uma crise econômica e geopolítica sem precedentes.
A crise mundial que se desenha é o reflexo de uma nação que, ao tentar proteger sua hegemonia com medidas protecionistas e ameaças constantes, acabou se isolando e perdendo sua capacidade de inovação. O que está em jogo não é apenas a economia americana, mas o equilíbrio geopolítico do século XXI.
Se a história serve de lição, os EUA devem repensar suas estratégias antes que a decadência se torne irreversível. A era do domínio absoluto acabou; o mundo, agora, caminha para uma nova ordem onde tecnologia, inovação e cooperação internacional serão as verdadeiras moedas de poder…
A implementação de tarifas elevadas entre os Estados Unidos e o Brasil certamente trará prejuízos diretos ao bolso do povo de ambos os países. Para o Brasil, tarifas mais altas podem encarecer produtos importados, elevar custos de insumos para indústrias nacionais e diminuir a competitividade do comércio exterior. Já para os consumidores americanos, o aumento de tarifas pode resultar em preços mais altos em bens de consumo, afetando o poder de compra e o padrão de vida da população. Essas medidas, embora possam ser apresentadas como estratégias de proteção econômica, acabam penalizando os cidadãos comuns, que arcam com o peso de decisões políticas que muitas vezes não consideram o impacto social e econômico de longo prazo.
Por outro lado, é extremamente maléfico para ambos os países a interferência indevida dos Estados Unidos na soberania do Brasil, especialmente quando tentam influenciar decisões internas, como alterações em julgamentos na Suprema Corte brasileira ou a imposição de leis que não têm validade ou abrangência dentro do território brasileiro. Essa ingerência viola princípios básicos de autonomia nacional e pode comprometer a integridade do sistema jurídico do Brasil, além de criar um precedente perigoso de ingerência estrangeira. A soberania de um país deve ser respeitada, e qualquer tentativa de interferência externa compromete a independência judiciária, enfraquecendo a democracia e a autonomia do Brasil de decidir seus próprios rumos políticos e jurídicos.
Também o crescimento do BRICS tem se intensificado de maneira significativa diante das políticas adotadas pelo presidente Donald Trump, que priorizaram o protecionismo, o isolamento econômico e a desregulação do comércio internacional. Essas ações, muitas vezes marcadas por tarifas elevadas e retaliações, estimularam os países membros do BRICS a fortalecerem suas relações comerciais e a buscar alternativas ao sistema tradicional dominado pelos Estados Unidos. Como resultado, o bloco tem se consolidado como uma força econômica emergente, com uma população conjunta que supera duas a cada cinco pessoas no mundo, além de um volume de comércio cada vez mais expressivo. Essa crescente integração e cooperação entre os países do BRICS têm potencial para transformar a dinâmica global de poder, criando uma nova concentração de mercados, recursos e influência que rivaliza ou até supera a hegemonia norte-americana.
Se essa tendência continuar, o BRICS poderá se tornar a maior concentração de países, comércio e população já vista na história mundial. A expansão dessa união promove uma maior diversificação de mercados, reduzindo a dependência das economias tradicionais lideradas pelos EUA e promovendo uma redistribuição do poder econômico global.
Essa mudança pode acelerar o declínio da hegemonia norte-americana, pois o bloco representa uma alternativa viável e robusta ao sistema ocidental, tanto em termos de volume de comércio quanto de influência política.
Assim, a postura de Trump, ao fortalecer uma postura protecionista e disruptiva, inadvertidamente pode estar catalisando uma transformação estrutural que favorece o crescimento do BRICS como uma nova potência global, capaz de desafiar o domínio tradicional dos Estados Unidos no cenário mundial.
Por Guilhobel A. Camargo – Gazeta de Novo
Uma resposta
Muito esclarecedor seu artigo, importante que seja lido por muitos!!!!