
Há um momento em nossas vidas, quando alcançamos os 70, 75 , 80 anos ou mais, em que buscamos encontrar um novo sentido para a vida, mesmo sem ignorar as dores das perdas queridas que dilaceram e afogam nossos corações.
É uma busca por uma nova estrada, após uma longa jornada, na qual as perdas materiais passam a valer muito menos do que as sentimentais, especialmente em relação às pessoas pelas quais nutrimos uma grande empatia.
No entanto, é por meio dessas perdas materiais que encontramos um dos caminhos para olhar mais profundamente para o que realmente importa: nossos sentimentos em relação às outras pessoas.
Desejamos explorar novos cenários, ultrapassar as maiores matas, as maiores montanhas ou arranha-céus, para sermos os protagonistas de nossas próprias histórias. Tudo o que propomos vem do coração, algo que precisamos enfrentar de maneira mais célere, pois o tempo corre contra nossa idade. É como se observássemos a areia escorrendo na ampulheta, símbolo do tempo que nos resta para percorrer. Ao segurar um punhado de areia, percebemos que, quanto mais tentamos conter, mais os grãos escapam entre os dedos. Assim é o tempo nas décadas finais de nossas vidas.
Distanciar-se das pessoas que mais desejamos ao nosso lado será o caminho para entender esse novo sentido que buscamos e a lembrança mais amena que queremos deixar para aqueles que amamos. Dói, dói muito, mas há coisas que devemos fazer, mesmo que dilacerem nosso coração, para não causar dor nos corações daqueles que amamos quando sentirem nossa falta. Exigir mais amor no final de nossos dias é ser egoísta e não considerar a dor maior que sentirão com nossa ausência.
Superar qualquer outra dor que carregamos em nossos ombros, ultrapassar roteiros e cortes abruptos em nosso novo caminho e na sina da idade avançada é um desafio constante.
Mesmo que faltem valores financeiros, levando-nos a escolher o mais barato para comer, utilizar em casa para mantê-la em ordem, como os papéis de limpeza mais econômicos, sabonetes e, por vezes, deixar de comprar os cremes e perfumes que costumávamos adquirir, devemos enfrentar com altivez.
Poucos aposentados em nosso país têm uma aposentadoria que suporte luxos.
Com o passar do tempo, após uma vida com poucas reservas e aquisição de bens imóveis que sustentem nossas principais necessidades, percebemos que precisamos seguir em frente.
Aqueles que valorizavam suas vestimentas para receber reconhecimento percebem que há pessoas nas calçadas para as quais roupas velhas têm grande valor. Ao entregar agasalhos, calças e outras peças de roupa, observamos o brilho nos olhos delas ao receberem o presente. Muitos de nós, que antes enxergávamos os moradores de rua como vagabundos ou drogados, começamos a compreender que até eles estão ali por razões que também poderiam nos levar a cumprir uma sina de nossas vidas.
Ao nos colocarmos, mesmo que por um breve momento em nossos pensamentos, no lugar deles, percebemos o verdadeiro significado da vida.
Por Guilhobel A. Camargo – Gazeta de Novo



Uma resposta
Um texto reflexivo sobre a vida de quem chegou a uma idade avançada com um vasto conhecimento de mundo!!!! Perfeito, artista das palavras!!!