“Temporada de montanhas” exige planejamento e cuidados, orienta Corpo de Bombeiros

LITORAL/RMC – Pico Paraná – Localizado entre a Região Metropolitana de Curitiba e o Litoral, o Pico Paraná é a grande referência do montanhismo. Foto: Marina Rampim
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As trilhas no Paraná são bastante procuradas por quem deseja unir atividade esportiva, lazer e natureza. O número de participantes desse tipo de prática vem aumentando a cada ano e, com a chegada do inverno e suas temperaturas mais amenas, esse grupo se torna ainda mais numeroso. Encarar passeios em terrenos de montanhas e morros pode ser uma ótima oportunidade de superar os próprios limites, admirar as belezas naturais e aproveitar um momento de lazer enquanto mantém o corpo em movimento.

Mas esse tipo de passeio exige muitos cuidados com a segurança, já que envolve ambientes diversos e muito suscetíveis às condições climáticas. O caso da brasileira Juliana Marins, que caiu enquanto fazia uma trilha para tentar chegar ao cume do vulcão Rinjani, na Indonésia, no último fim de semana, é uma dura lembrança de que essas aventuras têm também seus perigos.

“A gente chama esse período até agosto, setembro, de temporada de montanha, porque a temperatura fica mais seca e mais agradável para esse tipo de local. Nossas montanhas recebem muitos visitantes, de todos os tipos: desde pessoas muito experientes àquelas pessoas que não têm preparo nenhum”, afirma o major Ícaro Gabriel Greinert, comandante do Grupo de Operações de Socorro Tático (GOST), do Corpo de Bombeiros Militar do Paraná (CBMPR).

“Pode acontecer alguma intercorrência com qualquer um, alguma lesão, mas via de regra o nosso tipo de atendimento é de pessoas pouco preparadas, que nunca foram para a montanha, não sabem como preparar um kit de montanha ou que não conhecem o local”, completa.

PLANEJAMENTO – A preparação para esse tipo de atividade envolve três etapas. A primeira é a escolha da rota, que consiste na pesquisa sobre o tipo de terreno e as dificuldades que ele impõe. Essas informações podem ser buscadas em sites especializados ou com amigos que tenham conhecimento prévio do trecho. Ir acompanhado é outro conselho das autoridades.

“O planejamento é fundamental. Na primeira vez, é muito importante a pessoa ir com alguém que já conheça o trajeto: um guia, alguém experiente. Além disso, existem vários aplicativos de trekking onde você acha a trilha já formada e marca a sua própria trilha. Esse é o planejamento inicial para pensar em ir para uma trilha”, afirma o major Gabriel.

As condições meteorológicas e o tempo de conclusão do percurso são outros quesitos que devem ser considerados. Dependendo do local do passeio, como em regiões mais isoladas, com terreno mais íngreme ou com muita travessia de pequenos rios, a orientação é evitar o deslocamento em dias com previsão de chuva forte. Nesses casos, há riscos de deslizamento, e de aumento repentino de córregos, deixando o grupo ilhado, além da possibilidade de ocorrência de descargas elétricas.

Ter noção da distância a ser percorrida e da dificuldade do terreno é importante para calcular o tempo necessário para a atividade. O mais indicado é ter tempo de sobra para finalizá-la ainda sob luz natural, pois a falta de iluminação se torna um entrave para encontrar os caminhos e aumenta o risco de quedas e acidentes com animais peçonhentos.

Com o percurso estabelecido, vem a preparação para o dia da caminhada, que envolve a montagem de uma mochila com equipamentos e a escolha de trajes adequados para a missão. A capacidade física para o desafio é outro fator essencial para garantir uma atividade sem intercorrências, segundo o comandante do GOST.

“O primeiro alerta que a gente faz é ter uma condição física razoável. Grande parte do atendimento do GOST é de pessoas que ou não conseguem atingir o cume das montanhas, ou atingem e chegam à exaustão física. Ela não está machucada, não tem lesão, mas chegou à exaustão. É muito difícil sair dessa condição”, explica.

Na mochila, vários itens são considerados indispensáveis para eventualidades. Quantidade razoável de comida, como barras de cereais, e água não podem faltar. Bateria extra para o celular, por meio de carregadores portáteis (power banks); lanternas, com pilhas extras também; apito de emergência; repelente; protetor solar; e kit de primeiros socorros são outros equipamentos básicos.

Fazer o download do mapa da região, para uso offline em aplicativos para o celular, é bastante aconselhável. Caso a ideia seja acampar, desde que seja permitido, adicionam-se a isso as barracas e sacos de dormir.

Não se pode errar também nas vestimentas, usando roupas e calçados adequados, que garantam conforto e mobilidade. O uso de chapéu ou boné é bastante recomendado, especialmente em áreas de mata menos densa, como proteção dos raios solares. Mesmo em dias mais quentes, uma peça de roupa para frio tem que estar na bagagem.

“Levar um agasalho é fundamental. Temos que ter em mente que a temperatura lá em cima da montanha sempre será mais fria”, lembra o major Gabriel. “Orientamos a pessoa a ter o mínimo de comida para sobreviver de 2 a 3 dias, porque o tempo pode fechar, ela pode ter uma lesão, alguma coisa pode acontecer e essa pessoa pode necessitar aguardar por um resgate”.

PREPARO PARA IMPREVISTOS – A última etapa é a execução. O ideal é avisar de antemão para pelo menos três pessoas qual é a rota definida e a programação completa da atividade, para que as equipes de busca saibam onde procurar, caso algo saia errado.

Dito isso, um dos grandes problemas observados pelo GOST em ocorrências nesse tipo de ambiente é a mudança de percurso de última hora. “Mantenha o planejamento, jamais saia da trilha demarcada, seja para buscar um atalho ou um lugar para foto. Se o planejamento é ir até o cume X, siga essa rota e retorne. Não saindo da trilha, a tendência é dar tudo certo”, destaca o oficial do CBMPR.

Há ainda os cuidados básicos de toda caminhada: olhar por onde anda. Especialmente em terreno escorregadio ou elevado, é fundamental cuidar sempre onde pisa e não se aproximar da beirada de barrancos ou precipícios. As quedas podem ocasionar lesões graves, inviabilizando a locomoção, ou até mesmo levar o grupo a se perder do trajeto original. A atenção deve ser redobrada ao fazer selfies ou fotos, procurando sempre um local adequado, firme, e sem se colocar em risco.

Como nem sempre as coisas saem como planejado, é preciso também saber o que fazer em caso de acidentes ou imprevistos. Se for necessário, mantenha a calma e peça socorro pelo telefone de emergências do Corpo de Bombeiros (193). Ao se perder, a orientação é não andar sem direção, tentando encontrar um caminho de volta. Além de correr riscos, inclusive de não achar a trilha, seguir em movimento pode dificultar as equipes de busca de localizarem sua posição. Se possível, fique em lugar com acesso à água e poupe bateria do celular. Use o apito de emergência para informar sua localização.

Outro conselho essencial é paciência. Dependendo do terreno, as equipes de busca podem demandar tempo para chegar ao local do resgate. “As pessoas têm que levar em conta que o resgate pode demorar, mesmo aqui na Serra do Mar. Dependendo das trilhas, a gente pode levar 4 a 6 horas para acessar essa vítima, até porque a gente vai com equipamentos. Com condições climáticas favoráveis, podemos usar as aeronaves do BPMOA (Batalhão de Polícia Militar de Operações Aéreas) para dar agilidade, mas se o tempo fechar, o deslocamento é por terra. Aí demora mais”, diz o major.

“E esse tempo para aquela pessoa muitas vezes que está ali molhada, machucada, sofrendo, ele é multiplicado. Temos total capacidade de resposta, mas muitas vezes não é tão rápido como a pessoa imagina”, acrescenta.

Além de aeronaves, as equipes de resgate também podem utilizar drones para ajudar na localização. O GOST tem ainda vestimenta própria para esse tipo de missão, contando com equipamentos de salvamento vertical e constantes treinamentos em escalada. “Somos uma das poucas unidades do Brasil com capacidade de resposta em rocha”, destaca.

MONTANHAS BOMBEIROS
O Instituto Água e Terra (IAT) conta com uma parceria com o Corpo de Socorro em Montanha (Cosmo), uma associação civil sem fins lucrativos composta por 50 montanhistas, no Marumbi. Foto: Geraldo Bubniak/AEN


PREVENÇÃO – No Paraná, o Parque Estadual Pico do Marumbi é um dos locais preferidos para as trilhas – e um dos mais desafiadores também. O Pico Olimpo, o maior, tem 1.539 metros de altitude. Para minimizar os riscos de incidentes, o Instituto Água e Terra (IAT) conta com uma parceria com o Corpo de Socorro em Montanha (Cosmo), uma associação civil sem fins lucrativos composta por 50 montanhistas experientes, todos voluntários, que auxiliam na prevenção e gestão da segurança no local, junto com a gerência do Parque.

Segundo Lineu César de Araújo Filho, vice-coordenador do Cosmo, além de efetuar resgates, auxiliar o Corpo de Bombeiros quando necessária a intervenção deste, o grupo atua na prevenção e no manejo das trilhas. Um trabalho importante para garantir que os visitantes tenham maior segurança durante todos os trajetos, que podem demorar até 8 horas para serem vencidos.

“Nosso pessoal está o tempo inteiro na montanha, observando as condições das trilhas, com toda a expertise de montanhistas experientes. Com o tempo, você aprende a reconhecer pontos de risco na trilha. E nós usamos isso. Por exemplo, se um lugar pode confundir alguém ou se é muito liso, se precisa de alguma sinalização, se precisa melhorar aquele trecho. O trabalho de manejo da trilha é a nossa primeira atividade”, conta Lineu.

De acordo com ele, as conversas com os visitantes também ajudam a prevenir situações de risco, orientando sobre eventuais mudanças nas condições climáticas, avaliando a possibilidade deles finalizarem o trajeto planejado com base no ritmo de deslocamento, e dando dicas de segurança. Um dos integrantes da equipe sobe ao topo por volta de 14 horas, solicitando que o pessoal comece a descer. Ele fica ali até ser o último, prestando apoio aos aventureiros no percurso de retorno à base da montanha quando necessário.

Uma das medidas de segurança do Parque do Marumbi é a janela permitida para entrada no local. Os visitantes só podem acessar o complexo até as 9 horas, que é considerado um tempo razoável para a conclusão do trajeto.

Todos precisam preencher um formulário com dados pessoais, telefone de contato e horário de início do passeio. A ficha é “fechada” quando a pessoa finaliza a aventura. Desse modo, é possível controlar quantas pessoas começaram as trilhas e ainda não retornaram para a base. Em caso de dúvidas ou de problemas, os funcionários do Parque ou os integrantes do Cosmo podem ser acionados a qualquer momento.

Via AEN

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