“Vivas mortas”, para seus destinos, essas meninas estupradas são aprisionadas pelo resto de suas vidas.
Sim, esta PL 1904/24 fará as meninas perderem suas vidas para algo que só saberão que é um ser vivo depois de nascerem e serem ensinadas sobre o que é a vida.
Não há nenhuma lógica inteligente em aprisionar uma criança sem culpa por um fato que ela não pode decidir, em função do estupro que sofreu. Caso claro e cristalino que a própria religião não quer agora – usando seus chamados “procuradores de Deus” – propondo esta lei que proíbe o aborto e junto proibindo o uso do livre-arbítrio.
PRIMEIRA POSSIBILIDADE – Se a criança usar um médico ou uma agulha de crochê para provocar o aborto e não criar um ser humano não desejado. Não foi por amor, foi um tarado usando sua força masculina que introduziu em seu útero – ela será presa. Presa pela uma lei penal em vigor desde 1940, ou por esta nova lei que estão para aprovar, que aumentará até 20 anos de pena.
SEGUNDA POSSIBILIDADE – Se não puder fazer o aborto porque ultrapassou o prazo de 22 semanas previsto pela PL, e por não saber que estava grávida,
- ou não ter condições de pagar ou de solicitar o aborto a tempo, por não conhecer bem os caminhos da saúde pública ou ainda por estar atemorizada –
e em pânico e envergonhada por achar que ela própria foi a culpada pelo estupro que sofreu.
O que assistimos na ficção da série “Jogos Vorazes”, aqui no Brasil é a realidade, mesmo dentro de uma democracia, onde vemos que crianças são obrigadas a perder o futuro de suas vidas após serem vítimas de um crime e eliminadas da vida normal, para criar o que não queriam e foram vítimas. Não é só na tentativa desta PEC de permitir que um estuprador tenha um filho criado por uma mulher que não desejava ter um filho e sofreu um crime, mas na obrigação de criar o filho fruto de um crime.
Onde encontrar neste lar o amor para um filho que não era desejado e o pior provocado por um tarado criminoso? E também os pastores, meros coletores de dízimos, usarem de hipocrisia – fazendo de conta que querem salvar uma vida de fetos – que nem sabem que são vivos – e muito menos têm algum sentimento antes de nascerem.
No geral são meninas menores de famílias humildes que sofreram estupro e são levadas para uma vida que não é expressão fictícia da série Jogos Vorazes, que aqui com a lei de proibir o aborto, é a sua própria realidade. Essas meninas estupradas não são as de Panem, filme de um futuro distópico onde os distritos são oprimidos pela Capital, e os Jogos Vorazes, um acontecimento brutal contra jovens forçados a lutar até a morte. Neste caso real a menina – e chamo de menina porque tarados não estupram idosas, pois 7 em cada 10 mulheres estupradas têm menos de 15 anos – são colocadas em Jogos
Vorazes que acabam com suas vidas criando ou não o feto, fruto de crime.
Esses deputados evangélicos, autores e apoiadores da PL, devem ser cobrados pelo castigo que querem impor às mulheres. Uma lei não pode impor a uma vítima um castigo por um crime que sofreu. Os atos que se seguem, o aborto, são para a mulher salvar a sua vida com a independência que tem direito.
Ainda mais contra o estuprador, que no futuro, pode ter as benesses da justiça, para cobrar e dividir a educação – do que plantou dentro do corpo de uma mulher sem sua autorização. Semente de vida que ela não desejava e que, tendo um pai no futuro, quando nascer o fruto da semente do mal, o pai terá direitos sobre ele. Com que tipo de cabeça nasce um ser filho de um tarado se a genética se repetir na criança que irá nascer? Seria neste caso a própria justiça, através da lei, criando dispositivos legais para permitir o crescimento do número de estupradores dentro de um país.
Esses arrecadadores de dízimos devem ser cobrados pela sociedade e pela justiça por quererem impor às mulheres um cristianismo em um país laico. Ninguém pode ter direito sobre o corpo do outro, muito menos usando as mentiras das religiões. Os traumas da infância acompanham a vida toda – é isso que esses animais fazem com as crianças que estupram – e a justiça e as leis de um país não podem dar um troféu ao criminoso tarado, proibindo esta menina de retirar o que invadiu o seu corpo.
Esses deputados, no futuro membros do ministério público e juízes que irão condenar estas meninas – que expulsarem com aborto um fruto do mal que invadiu seu corpo por um crime – jamais aceitariam que estupradores invadissem suas casas – o que não é nada perto da menina que teve seu corpo invadido.
Que esses jogos vorazes dos nossos políticos não sejam autorizados e que em futuro próximo também acabem com as penalidades da lei de 1940. E saibam que nosso país não é uma igreja, uma mesquita ou uma sinagoga, muito menos a casa onde hipócritas possam construir leis para condenar mulheres que tiveram seus corpos invadidos à força.
Toda mulher tem sim o direito de retirar o mal que plantaram dentro do seu corpo em qualquer tempo que for possível pela medicina e não pelo desejo de religiões e ordem da justiça.
Fora o Snow, o tirânico presidente de Panem dos Jogos Vorazes.
Fora o Lira, o tirânico presidente da Câmara com seus 24 segundos.
Por Guilhobel A. Camargo – Gazeta de Novo
Uma resposta
Uma comparação perfeita desta tentativa de penalizar quem foi vítima com Jogos Vorazes! Sou absolutamente contra o aborto, mas aceito aqueles que a lei prevê para proteção feminina! O que deveria ser votada é uma lei que agilize o atendimento dentro da saúde pública para as meninas vítimas de estupro. Atendendo com presteza suas necessidades e seus direitos! Assim não haveria nenhum aborto tardio!!! O serviço público de assistência social deveria tirar as bandas das cadeiras e sair em busca das necessidades de nossas crianças! Os conselhos tutelares deveriam estar nas escolas e nas periferias em vez de estarem em frente a computadores fazendo serviços burocráticos…