Iniciado na maçonaria, o imperador assumiu o codinome Pedro Guatimozim, uma homenagem ao último rei asteca.
Dom Pedro I chegou ao topo da maçonaria brasileira tão rapidamente quanto deu um fim provisório à irmandade. É fácil entender o porquê dessa mudança de atitude. Dom Pedro I recorreu à ordem para declarar a independência. Mas, assim que se tornou o primeiro imperador do Brasil, os irmãos maçons viraram um estorvo.
A cronologia dos fatos no movimentado ano de 1822 deixa essa situação mais clara: dom Pedro foi aceito pela maçonaria no dia 13 de julho. Seu ritual de iniciação ocorreu a 2 de agosto, na loja Comércio e Artes — ele estava, segundo relato do historiador Pedro Calmon no livro ‘A Vida de Dom Pedro I’, “ardendo em curiosidade, a fantasia despertada pelo mistério de um rito perfumado de magia oriental”.
Depois de iniciado, assumiu o codinome Pedro Guatimozim, uma homenagem ao último rei asteca (os integrantes de alguns ritos da maçonaria tinham, e ainda têm, o hábito de adotar pseudônimos que os liguem a personagens antigos considerados inspiradores). E, no dia 5 de agosto, já era mestre da loja.
Dois meses mais tarde, a 5 de outubro, Pedro tornou-se grão-mestre do Grande Oriente do Brasil. Àquela altura, a independência já estava declarada e ele era o imperador de um novo país. Depois de apenas 17 dias na condição de líder da maçonaria brasileira, renunciou ao posto e mandou fechar a entidade.
“Como monarca, ele ficou insatisfeito com os questionamentos dos maçons e com o fato de poder ser abertamente contestado pelos irmãos”, diz o historiador Jesus Hortal Sánchez. “Quando percebeu que nem mesmo o cargo de grão-mestre garantia obediência absoluta, decidiu acabar com a ordem”.
Desafiado pelos parlamentares da oposição (entre os quais estariam vários maçons, que
se mantinham muito atuantes politicamente, apesar do fim do Grande Oriente), Pedro acabaria dissolvendo a Assembleia em novembro de 1823. E, em março do ano seguinte, outorgaria uma Constituição criada por um conselho de dez pessoas que ele mesmo indicara.
Esse panorama gerou um racha óbvio na Ordem, que mesmo proibida manteve suas colunas erguidas. Alguns maçons da época ainda eram imperialistas, mas os atos de Dom Pedro contra a própria ordem ruiu seu apoio maciço e a maioria dos maçons já se declarava republicano convicto.
Tornando Dom Pedro o maior traidor da Ordem no Brasil e dando suporte à proclamação da República em 1889.
Por Agripa – Gazeta de Novo