Vivendo com os meus 77 anos, em um mundo cada vez mais digital, a interação com IA (Inteligências Artificiais) tornou-se uma parte comum da rotina diária de muitas pessoas, no entanto para a minha geração é mais difícil esta interação.
É um engodo, uma isca, chamar esta ferramenta de Inteligência Artificial, quando o que temos para usar e ela nos fornece, é fruto de um banco de dados de “zilhões” de textos produzidos pelo homem. Ao pedirmos algo, ela faz a busca no que tem disponível, “plagia” o que alguém escreveu, envolve tudo dentro de um pacote de palavras que dê sentido e entrega a encomenda. A IA cuja sigla é LLM (Large Language Model) são treinados em enormes conjuntos de dados que são baseados em aprendizado de máquina: especificamente, um tipo de rede neural chamada de modelo transformer. Assim o programa reconhece e gera textos, com o que tem nos bancos de dados e quando não tem o que pedimos – o programa que chamamos de IA – fornece o que foi fruto “tipo alucinação de um ser humano” e entrega o que inexiste. Ela não pensa ela tem capacidade de processar informações e gerar respostas de forma autônoma, ou seja, não envolve consciência e emoções.
Para alguns, essa experiência de abandonar os livros, a imaginação, a criação e confiar no que IA propicia é fascinante e instigante, – e mais: aos mais atentos observadores indica falta de criatividade, enquanto para outros pode despertar sentimentos ambíguos e até mesmo desconfortáveis.
A falta do texto escrito no papel, o peso do livro nas mãos, o folhear das páginas, para o leitor, que faz isso há décadas, é como abandonar o carinho feito com as mãos no corpo da pessoa amada.
Ao falar com uma IA, na forma escrita ou oral (desenho ilustração) a primeira sensação que muitas pessoas relatam é a curiosidade. Afinal, estamos diante de uma tecnologia que parece tocar além dos limites do que consideramos inteligente. O dialogar com uma máquina que processa informações de maneira tão rápida e precisa: provoca um misto de admiração e estranhamento.
Durante o desenrolar de uma conversa com a IA, seja para fazer apenas perguntas ou fornecer elementos para solicitar a construção de um texto , em temas que não dominamos é comum que surjam sentimentos de empatia e conexão.
A IA, mesmo sem emoções, consegue proporcionar respostas que muitas vezes parecem humanas, pois sabemos que ela se abastece do que humanos produziram e sua programação foi adaptada ao tom e ao conteúdo de uma conversa humana.
Isso gera um efeito curioso:
a pessoa pode se sentir compreendida, – porque a IA para muitos é a companhia que o liberta da solidão – como se estivesse se abrindo para alguém que, embora não tenha uma presença física, demonstra uma escuta atenta, mesmo que fria. Essa interação pode oferecer o conforto, especialmente em momentos de solidão, onde a IA se torna um único ouvinte disponível a qualquer hora do dia ou da noite.
Mas a experiência com a IA pode muitas vezes trazer uma sensação de desconforto
Aquela linha tênue que separa o ser humano, faz com que algumas pessoas se questionem sobre a autenticidade das emoções envolvidas. Você sozinho (a) com seu computador na solidão do seu espaço dentro de casa, que é só seu, – pode e acaba trazendo um frio na barriga – ao perceber que, apesar de todas as respostas bem elaboradas, a IA não possui sentimentos ou verdadeiras intenções.
Essa dualidade provoca uma reflexão profunda, principalmente aos idosos sobre o que significa se conectar com esta “ferramenta” mesmo que esta seja apenas um conjunto de algoritmos.
Além do mais, é inevitável que a conversa com uma IA levante questões éticas e existenciais,
porque isso significa confiar em uma máquina para receber conselhos, informações ou até mesmo apoio emocional.
Uma grande insegurança sobre a privacidade e a manipulação de dados também pode pairar sobre a mente daqueles que interage com a tecnologia de forma muito intensa.
A pergunta que devemos fazer é:
até que ponto estamos dispostos a nos abrir para uma “inteligência” que não pode realmente compreender a complexidade das emoções humanas?
Em suma, falar com uma IA é uma experiência multifacetada.
Entre a fascinação e a desconfiança, a empatia e o questionamento, cada interação revela variedades da complexabilidade humana e a busca por verdades em meio das incertezas.
Por Guilhobel A. Camargo – Gazeta de Novo
Uma resposta
Oi estou de pleno acordo com o texto, artificial até que ponto se foi elaborada pelo homem ???????