Ambos os Alexandres honraram o nome que quer dizer – “defensor dos homens” -,
o Ramagem defendeu os homens ilegais e o Moraes os legais.
Quando, em abril de 2020, Bolsonaro nomeou Ramagem para a diretoria-geral da Polícia Federal, o ministro Moraes, em decisão, citou as alegações de Moro e afirmou que havia indícios de desvio de finalidade na escolha de Ramagem. Foi em inobservância aos princípios constitucionais da impessoalidade, da moralidade e do interesse público que sentenciou, o ministro, contra a nomeação de Ramagem para a PF.
O ministro Alexandre de Moraes, usando a lei, já parecia prever o futuro dado o que hoje sabemos do que fez o outro Alexandre, o Ramagem. Moraes parece que, ao enxergar o conjunto de “folhas podres” (significado de ramagem no Aurélio), que havia por trás desta ramagem, usou de sua lavra para fazer o certo. No entanto, a determinação do ex-presidente Bolsonaro era tamanha que colocou Ramagem para dirigir a ABIN. Assim chegamos ao que hoje toda a imprensa traz em suas manchetes: a ABIN a serviço da família Bolsonaro, quando ele já havia dito:
“Não vou esperar foder a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meus,…”
ABIN – Agência Brasileira de Inteligência, diz a PF abonada pela PGR, serviu os Bolsonaros para seus propósitos políticos ilegais, inclusive para obtenção de dados para dar golpe na democracia, que culminou no 8 de janeiro. A ABIN, dentro de uma condição ilegal e paralela, fez a espionagem que Bolsonaro disse que ia fazer. Bolsonaro voltou a lembrar o que sempre defendeu, como era feito nos tempos da ditadura militar, porém hoje com uso de equipamento até de IA.
Veja na íntegra o que disse o ex-presidente na reunião de 22 de abril de 2022:
“Eu tenho o poder e vou interferir em todos os ministérios, sem exceção. Nos bancos eu falo com o Paulo Guedes, se tiver que interferir. Nunca tive problema com ele, zero problema com Paulo Guedes. Agora os demais, vou! Eu não posso ser surpreendido com notícias. Pô, eu tenho a PF que não me dá informações. Eu tenho as inteligências das Forças Armadas, que não tenho informações. ABIN tem seus problemas, tenho algumas informações…”
“A questão estratégica, que não estamos tendo. E me desculpe, o serviço de informações nosso, todos, é uma … são uma vergonha, uma vergonha! Que eu não sou informado!”, exclamou “E não dá pra trabalhar assim. Fica difícil. Por isso, vou interferir! E ponto final, pô! Não é ameaça, não é uma … urna extrapolação da minha parte. É uma verdade. Como eu falei, né? Dei os ministérios pros senhores. O poder de veto. Mudou agora. Tem que mudar, pô. E eu quero, é realmente, é governar o Brasil”, “Não vou esperar foder a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meus, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura nossa. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele! Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro! E ponto final! Não estamos aqui pra brincadeira”.
E foi o que fez o ex-presidente Bolsonaro, ele colocou o Alexandre Ramagem, ex-delegado que trabalhava na sua defesa pessoal, para montar a ABIN paralela, a seu serviço. Essa ferramenta atingiu o número de 60.731 acessos, a serviço de Jair Messias Bolsonaro e sua família. O chefe de Ramagem até as paredes conhece, é o ex-presidente Bolsonaro. Mas tem outra pedra no meio do caminho que está em silencio sepulcral, cujo nome é General Heleno, que era o número 1 em cima de todos da ABIN.
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), atendeu ao pedido da Polícia Federal e PGE, autorizou a busca e apreensão contra 12 investigados em procedimento criminal, que apura o uso da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) para monitoramento ilegal de brasileiros entre eles autoridades públicas. Para chegar nesta fase foram ouvidos pela Policia Federal depoimentos 80 funcionários da ABIN, sobre as ilegalidades. Tudo bem antes de chegarem na decisão do STF, – para colher outras provas em buscas até no gabinete do deputado Alexandre Ramagem, – e no endereço se outros funcionários da ABIN, mais provas para compor o inquérito que foi acolhido pelo STF. Essa foi a base para todo o processo que vieram dos 80 depoimentos de funcionário da ABIN, dando o caminho das pedras.
A Polícia Federal aprendeu na casa do Alexandre Ramagem 6 celulares e 4 notebooks, máquinas que pertenciam à ABIN. Tudo neste caso é de extrema gravidade e levará meses e vários poderosos para as grades de presídios. O uso dos equipamentos confiscados, na casa de Ramagem, que eram da ABIN, revelará outras provas materiais de que Ramagem continuava recebendo até hoje os relatórios de dentro da ABIN e que eram enviados ao ex-presidente.
Tanto é que no domingo, 21 de janeiro, quatro dias antes desse 25 de janeiro de 2023 – que foi deflagrada a ordem do STF para ir fazer buscas contra várias pessoas incluindo o Ramagem – que o ex-presidente Bolsonaro postou uma mensagem disparada em seu canal do Telegram, que demonstrou temor pelo que viria. “As próximas semanas poderão ser decisivas. Vivemos momentos difíceis, de muitas dores e incertezas”. É a prova de que até hoje, Bolsonaro recebia os resultados dos grampos fornecidos por Ramagem.
No despacho, o ministro Alexandre de Moraes autorizou o afastamento do delegado da PF Carlos Afonso Gonçalves, que atuou na ABIN envolvido nas espionagens ilegais. Hoje o deputado federal Ramagem tentou justificar que não sabia de nada. No entanto, no inquérito, há provas robustas que vão até na tentativa de estancar e encobrir o caso, quando o próprio parlamentar requisitou informações nos autos do STF, alguns dias antes da operação entrar na atual fase de diligência na casa e no trabalho de 12 pessoas.
No andar das ilegalidades tentaram, produzindo arquivos, para ligar o Ministro Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes à organização criminosa PCC – Primeiro Comando da Capital. Também de associar deputados e senadores, ministros de Lula a associações criminosas junto ao PCC. Tudo em esquema paralelo para atingir o STF e parlamentares de outras vertentes, com o objetivo de se protegerem de processos em andamento e dar um golpe na democracia. Porque mesmo em 2023 dentro do governo Lula ainda tinha pessoas dentro da ABIN a serviço dos Bolsonaros.
E mais; investigaram grampeando também a promotora de Justiça Simone Sibilio, que comandou a força-tarefa que investigava os homicídios da ex-vereadora Marielle Franco e de seu motorista, e também promotores do MP Estadual que investigavam as rachadinhas no processo contra Flavio Bolsonaro, quando praticou os crimes sendo deputado estadual.
Por que estaria a ABIN investigando O CASO Marielle?
Será que tinha temor que poderiam chegar aos Bolsonaros?
E a resposta para essas perguntas só pode ser:
A ABIN, durante o governo Bolsonaro, virou uma espécie de “Baba dos filhos de Bolsonaro”.
O deputado Antonio Roeda do União Brasil, a ex-deputada Joice Hasseman também estavam monitorados pela ABIN paralela, seguindo orientação dos acusados pelos atos criminosos. A ex-deputada e jornalista Joice, disse que por ordem de Carluxo Bolsonaro, além de grampear seu celular, também perseguiam pessoalmente seus assessores. Também o ex-Governador Camilo Santana, na época governador do Ceará, teve até um drone operado por um funcionário da ABIN, que sobrevoava a sua casa para gravar as conversas de seu telefone. O ex-governador é hoje ministro da Educação do Brasil do governo e senador da República pelo Ceará licenciado.
Além de perseguir, grampear e também proteger seus tutores, o ex-presidente Bolsonaro instrumentalizou a ABIN para dar informações aos seus filhos e até produzindo provas para entregar ao deputado Flavio Bolsonaro a fim de salva-lo do caso das rachadinhas, no RJ. Ao mesmo tempo, também o irmão Renan Bolsonaro, era informado do que a justiça com seus promotores e juízes onde estavam, com quem estavam, sobre o processo em que é réu e corre na justiça do Distrito Federal. Esse processo é sobre tráfico de influência de Renan Bolonaro, para vender equipamentos de forma ilegal sem a devida licitação pública para instituições públicas.
Sobre Flávio também foram produzidos documentos entregues pela ABIN paralela, manipulados por Marcelo Araujo Borneste que atuava dentro da ABIN, ele indicado pelo próprio Flavio Bolsonaro para o cargo. A corrosão da instituição ABIN foi aos extremos nas ilegalidades, mas o que é bom para a justiça é que todos os dados coletados estão arquivados em nuvem da empresa israelense Cognyte (ex-Verint), que vendeu o equipamento com o sistema First Mile.
No meio destas investigações, Valdemar Costa Neto se diz inconformado, ele que é o presidente do PL, partido do Bolsonaro. É óbvio que pretende com isso informar a sua bolha e também para não ser carregado para dentro deste processo, se é que já não está. Gel Mourão também, hoje senador, saiu à criticar o processo que corre no STF. E ninguém mais que o próprio Alexandre Ramagem, agente principal da denúncia, tenta desacreditar a PF, a PGR e outros poderosos da política. Todos ligados aos Bolsonaros tentam desacreditar a STF dizendo que tudo é perseguição política.
Na verdade, é que não obedeceram à privacidade que a constituição consagra como direito fundamental, no art. 5º e que é cláusula pétrea. Dispositivo constitucional imutável que não pode ser alterado nem mesmo por via de Emenda à Constituição. Ninguém, pessoas ou instituições legais para um caso podem, sem a devida ordem judicial, investigar outros. A conduta que os que tratavam dos grampos dentro da ABIN é tratada no código penal como uma das modalidades de corrupção.
Serviços de inteligência de qualquer país, que estejam sob o regime democrático, sempre terão de estar sob algum controle de entes públicos, mesmo que seja apenas por comissões constituídas dentro dos poderes desta democracia.
O sistema First Mile, comprado ainda no governo Temer, foi usado no governo do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro para espionar de forma ilegal sem autorização da justiça, para obter informações também sobre os adversários políticos, jornalistas e várias autoridades públicas de todos os três poderes. E não será surpresa se quando for divulgada a lista, que até parlamentares ligados a Bolsonaro também apareçam tendo sidos grampeados. A Polícia Federal, no comando do seu diretor geral, Alexandre Ramagem, selecionou 30.000 pessoas, quando 60.731 foram o número de invasões aos celulares selecionados.
Assim agiu o Bolsonaro que chamou de “meu exército” e “minha ABIN”, o que não é dele mas que usou para seus propósitos de se perpetuar no poder e proteger a sua complicada família.
Por Guilhobel A. Camargo – Gazeta de Novo
Uma resposta
Artigo que nos dá informações precisas sobre todos os envolvimentos criminosos na ABIN, durante o nefasto governo bolsonarista!!!!!!