Eles, os militares brasileiros, já deram 9 (nove) golpes e 5 (cinco) tentativas frustradas, incluindo a última, a de 8 de janeiro de 2023. Está no DNA dos nossos militares e também na índole, mesmo que custe a credibilidade da instituição a que pertencem ou a morte. Como faz o escorpião que, quando é rodeado por um círculo de fogo, acaba cravando o ferrão em seu próprio corpo, em um ato de dignidade.
Nesta opinião, darei um breve passeio em cada uma delas, começando por Dom Pedro I.
O primeiro golpe: Militares nascidos do seu “Rei Soldado de PT”, sendo os que, em toda a sua história, essas forças deram guarida para “dias de infâmias”. Depois de tantas conspirações, nos levaram onde estamos hoje, por incrível que pareça, democraticamente nas mãos do PT. Um ano e dois meses após o 7 de setembro de 1822, o Exército Brasileiro, nascido da organização castrense portuguesa – que era integrada por milícias do império – já dava seu primeiro golpe contra o povo brasileiro. Foi neste período que estivemos nas mãos do jovem oriundo de Queluz (PT), nascido em 1798, cognominado “o Libertador” e “Rei Soldado”, Pedro de Alcântara Francisco Antonio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim, que você conhece por Dom Pedro I. Usando o seu poder e estimulado e orientado pelo exército, ele foi o agente do primeiro golpe contra a nação brasileira. O Brasil, que vinha gozando de grande autonomia política após a volta de seu pai, João VI, para Portugal em 1821, teve a partir do ano de 1823, sob o governo de Dom Pedro I, um comportamento diferente. Diante do andamento da primeira Assembleia Constituinte e Legislativa, que visava formar uma constituição, os líderes do povo, que discutiam as bases para a constituição, foram acusados, segundo Dom Pedro I, de serem inspirados por algum “gênio do mal” que soprou neles ânimos e o fogo da discórdia. Eles ameaçaram a presença imperial, protegida pelas forças do império. Diante do que lhe foi comunicado pelos militares – que haveria excesso de moções para retirar toda ou uma grande parte do exército de perto da cidade do Rio de Janeiro, enfraquecendo o governo – o “Rei Soldado de PT” dissolveu a Assembleia. Assim, ocorreu “A Noite da Agonia em 1823”.
Os outros golpes que tiveram sucesso foram:
O segundo (2°) golpe foi em 1889, na Proclamação da República, quando os militares iniciaram um movimento por melhores salários. Juntaram-se a eles opositores de Dom Pedro II e grandes cafeicultores que queriam indenização do estado brasileiro pela perda de escravos. O Marechal Deodoro da Fonseca, apesar de ser monarquista, foi convencido pelos revoltosos a derrubar o gabinete ministerial ocupado pelo Visconde de Ouro Preto, em 15 de novembro, e no final daquele dia finalizou negociações cujo resultado foi a proclamação da República feita por José do Patrocínio, na Câmara Municipal do Rio de Janeiro.
O terceiro (3°) golpe foi em 1891. Mal Deodoro, minado até por Floriano Peixoto, seu companheiro de caserna, ficou sem apoio político e foi obrigado a renunciar em 23 de novembro de 1891. A verdade é que o Brasil estava muito dividido, com inúmeros interesses em jogo. A quantidade de moeda brasileira era insuficiente para atender ao país, especialmente porque os ex-escravos – agora assalariados para sobreviver – somavam 700 mil pessoas. Foi necessário aumentar a quantidade de moeda em circulação pelo ministro Rui Barbosa, mas o resultado foi desastroso. Houve aumento da especulação financeira na bolsa de valores e disparo da inflação. Esses efeitos prejudicaram a imagem do governo de Deodoro, e sua derrubada, com Floriano Peixoto, que era o Ministro da Guerra e o vice-presidente da República na época, se transformou em uma ditadura praticamente. Floriano Peixoto demitiu todos os governadores que apoiaram o governo de Deodoro da Fonseca. Em abril de 1892, decretou estado de sítio, prendeu manifestantes (Olavo Bilac e outros foram presos na Fortaleza da Lage, RJ) e desterrou outros para a Amazônia. Quando Rui Barbosa ingressou com habeas corpus no Supremo Tribunal Federal em favor dos detidos, Floriano Peixoto ameaçou os ministros da Suprema Corte: “Se os juízes concederem habeas corpus aos políticos, eu não sei quem amanhã lhes dará o habeas corpus de que, por sua vez, necessitarão”. O STF negou o habeas corpus por dez votos a um.
O quarto (4°) golpe, em 1930, foi o golpe militar que depôs o presidente Washington Luiz e impediu a posse do presidente eleito Júlio Prestes. O golpe foi liderado por Getúlio Vargas.
O quinto (5°) golpe, em 1935, ocorreu durante o governo Vargas, com o apoio de parte do exército. Vargas decretou estado de sítio em todo o país, permitindo a prisão de centenas de civis e militares acusados de ligação com a Aliança Nacional Libertadora (ANL) e o Partido Comunista Brasileiro (PCB), entre o final de 1935 e o início de 1936. Em março, Getúlio decretou estado de guerra, concentrando poderes para prender até mesmo parlamentares suspeitos de envolvimento com os levantes de novembro e outros levantes anteriores, em outros estados.
O sexto (6°) golpe, em setembro de 1937, começou a circular nas mídias um documento falso criado pelos integralistas, chamado Plano Cohen. Nesse documento, havia informações de que os comunistas pretendiam estimular insurreições para tomar o poder no Brasil. Apesar de evidentemente fictício, esse documento foi utilizado por Vargas, com o apoio do exército, como motivo para a decretação do estado de guerra, em 2 de outubro de 1937. O decreto do estado de guerra possibilitou a Getúlio Vargas fechar o Congresso Nacional e instituir uma nova Constituição baseada na carta constitucional fascista da Polônia, que ficou conhecida como “polaca”, consumando o Golpe de 10 de novembro de 1937. Esse golpe implantou o Estado Novo, regime presidido por Getúlio Vargas.
O sétimo (7°) golpe ocorreu quando houve um levante Integralista em maio de 1938. Foi um movimento de insurgência contra o governo de Getúlio Vargas e a Ditadura do Estado Novo, iniciada com o golpe de 1937. Um pleito marcado para o início de 1938 se aproximava, e Vargas e a alta cúpula das forças armadas articularam um golpe de Estado. A desculpa era o “medo comunista”, que estaria presente como grande propulsor das ações tomadas por Vargas.
O oitavo (8°) golpe foi a deposição de Getúlio Vargas, um golpe de Estado imposto por integrantes da cúpula das Forças Armadas do Brasil ao então presidente Vargas, em 29 de outubro de 1945. O golpe foi liderado pelos generais Góes Monteiro e Eurico Gaspar Dutra.
O nono (9°) golpe ocorreu em 1964, quando as forças armadas brasileiras, sempre servis ao governo dos EUA, além do governo dos EUA (com a CIA e Forças Armadas atuando de forma efetiva), a maçonaria, que esteve presente como militares em todos os golpes e tentativas de golpes, a igreja e associações de mulheres de generais (do RJ), que recebiam dinheiro da “Aliança para o Progresso” entregue pelo General Golbery do Couto e Silva, estiveram por trás de tudo isso. O interesse das montadoras e suas fornecedoras de peças em manter o pé no Brasil, mandando enormes lucros para fora do nosso país, também desempenhou um papel importante. Essas empresas enfrentaram pressão dos industriais paulistas e dos partidos de esquerda para limitar a remessa de lucros, o que daria oportunidade às indústrias brasileiras de se tornarem fornecedoras de peças para as montadoras. Após anos da instalação das montadoras no Brasil, e especialmente a partir de 1961, quando John F. Kennedy assumiu o governo, houve uma maior aproximação entre militares e empresários dos EUA e seus interesses no Brasil, o que culminou na implantação da ditadura de 1964.
Tivemos, então, de um lado a CIA comprando parlamentares brasileiros para que não aprovassem a lei que limitava a remessa de lucros, e a FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – se unindo aos partidos de esquerda brasileira para fazer lobby no congresso a favor de um limite de no máximo 10% de remessa. Esse limite, além de evitar a fuga de divisas, impediria que novas empresas estrangeiras se instalassem no país, abrindo espaço para a indústria nacional. A FIESP e os partidos de esquerda venceram essa batalha, com a lei sendo aprovada em agosto de 1963. O então presidente João Goulart relutou durante seis meses, até janeiro de 1964, para sancionar a lei, que não era de sua proposta. Sob pressão de seus próprios partidos de apoio e dos industriais, Goulart não resistiu. Neste dia da assinatura, o seu ministro do trabalho Amauri Silva (que era do Paraná) disse ao presidente: “O senhor acaba de assinar a sua deposição da presidência”. Jango foi deposto dois meses depois, em 31 de março. Isso é confirmado por meu pai, Guilhobel, que era assessor do ministro e estava ao lado dele na ocasião. A prova de que esse fato é verdadeiro é que, meses depois, os militares golpistas revogaram a lei que limitava a remessa de lucros. Tudo conforme a vontade dos Estados Unidos, e como se pode verificar, não tinha nada a ver com a chegada do comunismo (Jango era latifundiário, não comunista, como afirmado pelo embaixador Lincoln Gordon). Era, sim, os norte-americanos sugando cada vez mais nossas riquezas.
As tentativas de golpes foram:
- Em 1904, um grupo de militares-políticos protagonizou uma tentativa de golpe de Estado que partiu da Escola Militar do Brasil, localizada na Praia Vermelha.
- Em 1922, mais uma tentativa militar de golpe ocorreu com o movimento tenentista, no qual Prestes, capitão do Exército brasileiro, foi um dos líderes.
- Em 1924, houve outra tentativa de golpe com o movimento tenentista, que foi frustrada.
- Em 1950, este ano deu início ao enredo que culminaria no golpe de 1964. O que Carlos Lacerda disse em 1950, pouco antes das eleições, foi profético: “…Se Getúlio for eleito, não pode assumir, e se assumir, deve ser deposto”. Getúlio foi eleito e, em 1952, criou a Petrobras. João Goulart, ministro do trabalho, dobrou o salário mínimo e começou a fortalecer e incentivar a criação de mais sindicatos, o que gerou seus maiores problemas. O governo dos Estados Unidos, para proteger as suas cinco “irmãs” (Exxon, Texaco, Mobil, Amoco e Chevron) contra a concorrência da Petrobras, criou um braço no Brasil com os Diários Associados, que era do empresário e jornalista Assis Chateaubriand, apoiado pelos militares e usando a voz de Carlos Lacerda em sua rede de TV, rádio e jornais. A sanha golpista acabou provocando o suicídio de Getúlio Vargas em 1954. Tancredo Neves dizia que o suicídio de Getúlio adiou em 10 anos o golpe, que acabaria acontecendo com o comando do Exército em 1964, novamente com o apoio do governo dos Estados Unidos e da maçonaria, conhecida como “Forças Ocultas”.
- Chegamos em 2023, e esta tentativa todos sabem: O comando das forças armadas debateu em reunião com militares da reserva e da ativa, junto com Bolsonaro, a possibilidade de dar um golpe para não permitir que Lula assumisse ou permanecesse no poder. Nesta, eles chegaram até a elaborar um documento juridicamente elaborado para o golpe. Depois da delação do Tenente-Coronel Mauro Cid, tudo veio à tona, e hoje temos a operação que levou o General da reserva Ridauto Lúcio Fernandes, para dentro da Policia Federal, depondo nesta sexta feira 29 de setembro. Ele é suspeito de ser um dos idealizadores dos atos golpistas que culminaram em 8 de janeiro de 2023.
Esta tentativa de golpe de 2023 teve quatro fases:
PRIMEIRA: 7 de setembro de 2021
SEGUNDA: A reunião delatada por Mauro Cid em 25 de novembro
TERCEIRA: No dia da diplomação de Lula
QUARTA: Dia 8 de janeiro
Finalizando: Para que servem as Forças Armadas além de dar ordem unida e golpes de estado, quando até nossas fronteiras não são por elas guardadas, fazendo com que o Brasil seja a “maior ponte” de remessa da cocaína e outras drogas, utilizando nossos portos e aeroportos para o tráfico mundial?
Por Guilhobel Aurélio Camargo – Gazeta de Novo
Respostas de 4
Eu também me pergunto, faz tempo, pra que servem nossas forças armadas.
Um passeio pela nossa história colocando o dedo na ferida dos aquartelados, sempre atrás de vantagens!!!! Nunca os golpes e tentativas de golpe foram para favorecer os brasileiros, principalmente os menos favorecidos… os olhos dos milicos, claro que com muitas exceções, sempre estiveram em seus próprios umbigos!!!!
Que banho de história esse texto!
Mais uma aula de história proferida pelo ultra culto LELO esbanjando cultura. Aprendi coisas que não tinha conhecimento sobre o Brasil que tem sido violado ao longo de sua história por oportunistas fardados de plantão.